Bens públicos digitais: infraestruturas para o futuro

Na era da transformação digital, novas formas de infraestrutura ganham destaque como fundamentais para o desenvolvimento social, econômico e democrático. Entre elas, os bens públicos digitais se apresentam como recursos estratégicos, acessíveis e compartilhados, essenciais para garantir inclusão, inovação e soberania tecnológica.

Mas afinal, o que são bens públicos digitais? Qual a sua importância para governos, empresas e cidadãos? E como podemos promovê-los de forma eficaz e colaborativa? Neste artigo, exploramos essas questões e refletimos sobre o papel desses ativos no futuro das sociedades digitais.

O que são bens públicos digitais?

Bens públicos digitais são recursos digitais acessíveis a todos, sem restrição de uso, e que não se esgotam com o uso por terceiros – ou seja, são não-excludentes e não-rivais. Essa é a mesma lógica que define bens públicos tradicionais, como o ar limpo ou a iluminação de uma praça, mas aplicada ao contexto digital. Exemplos de bens públicos digitais incluem:

  • Protocolos abertos (como HTTP, TCP/IP);
  • Dados públicos abertos;
  • Softwares livres e plataformas de código aberto;
  • Infraestruturas digitais interoperáveis;
  • Redes públicas de conectividade;
  • Conteúdos educacionais abertos (REA);
  • Mapas digitais colaborativos (como o OpenStreetMap).

Esses bens não pertencem a uma única entidade e podem ser usados por qualquer pessoa ou instituição para criar soluções, melhorar serviços e fomentar inovação.

Por que os bens públicos digitais são importantes?

  1. Promovem inclusão digital: ao garantir acesso livre e equitativo a recursos essenciais, ajudam a reduzir desigualdades tecnológicas;
  2. Estimulam a inovação colaborativa: permitem que comunidades de desenvolvedores, pesquisadores e empreendedores construam soluções com base em plataformas abertas;
  3. Reduzem dependência de tecnologias proprietárias: fortalecem a soberania digital e a autonomia dos países frente a grandes corporações;
  4. Aumentam a transparência e confiança: códigos abertos e sistemas auditáveis geram maior controle social e segurança jurídica;
  5. Fomentam o conhecimento compartilhado: estimulam o aprendizado, a pesquisa científica e a produção cultural livre.

A diferença entre bens privados, públicos e digitais

É importante distinguir os bens públicos digitais dos bens privados digitais (como plataformas de redes sociais ou serviços pagos na nuvem). Enquanto os bens privados são controlados por empresas e possuem barreiras de acesso, os bens públicos digitais são acessíveis, reutilizáveis e geridos com interesse coletivo.

Além disso, os bens públicos digitais se diferenciam por sua capacidade de escalar sem custo adicional, algo que os torna ainda mais estratégicos no ambiente digital.

Exemplos práticos e políticas públicas

Vários países e organizações internacionais têm desenvolvido políticas e projetos baseados em bens públicos digitais. Alguns exemplos incluem:

  • Estônia: país pioneiro em governo digital, adotou plataformas abertas e interoperáveis como base da administração pública;
  • Índia (India Stack): infraestrutura digital pública que inclui autenticação biométrica, identidade digital e pagamentos digitais gratuitos para os cidadãos;
  • Brasil: iniciativas como o Portal Brasileiro de Dados Abertos e o uso de software livre em prefeituras e órgãos federais;
  • Unesco e ONU: defendem o acesso aberto a conhecimento, ciência e dados como pilar do desenvolvimento sustentável.

Além disso, coalizões globais como a Digital Public Goods Alliance (DPGA) promovem o desenvolvimento e a adoção de bens digitais públicos em escala global.

Desafios para a adoção e manutenção

Apesar de suas vantagens, a criação e sustentabilidade dos bens públicos digitais enfrentam vários desafios:

  • Financiamento e manutenção contínua: muitos projetos de código aberto carecem de apoio financeiro para se manter atualizados e seguros;
  • Governança e neutralidade: garantir que esses bens sejam geridos de forma democrática, segura e transparente;
  • Baixa visibilidade e uso: muitos governos e organizações ainda desconhecem o potencial desses recursos;
  • Fragmentação e incompatibilidade: falta de padronização e interoperabilidade entre soluções digitais públicas;
  • Capacitação técnica: é preciso formar profissionais para construir e usar bens digitais públicos de forma eficiente.

Como promover os bens públicos digitais?

Para ampliar o impacto dos bens públicos digitais, é necessário um esforço conjunto entre governos, sociedade civil, empresas e academia. Algumas estratégias incluem:

  1. Investir em infraestrutura aberta: apoiar financeiramente plataformas, códigos e sistemas com potencial público;
  2. Adotar políticas de software livre e dados abertos: promover legislações que incentivem a transparência e o reuso de informações;
  3. Criar ambientes de colaboração: hackathons, laboratórios de inovação e comunidades open source devem ser fortalecidos;
  4. Educar e capacitar: incluir temas como cultura digital, ética da informação e desenvolvimento aberto nas escolas e órgãos públicos;
  5. Garantir sustentabilidade: estabelecer modelos de governança e financiamento que assegurem a continuidade desses ativos no longo prazo.

O futuro dos bens públicos digitais

À medida que mais atividades da vida cotidiana – trabalho, educação, saúde, mobilidade – passam para o ambiente digital, os bens públicos digitais tornam-se ainda mais relevantes. Eles representam não apenas ferramentas técnicas, mas infraestruturas sociais, que moldam os direitos, deveres e oportunidades da cidadania digital.

Em tempos de crescente dependência de plataformas privadas e vigilância digital, os bens públicos digitais oferecem um caminho mais justo, colaborativo e democrático para a construção de sociedades conectadas. O futuro digital que queremos precisa ser inclusivo, seguro, transparente – e isso só será possível se construirmos uma base tecnológica que seja pública, ética e acessível a todos.

Conclusão

Bens públicos digitais são mais do que tecnologias abertas: são peças-chave para o desenvolvimento sustentável, a inovação cívica e a justiça social no século XXI. Ao tratá-los como infraestruturas essenciais, os governos e a sociedade dão um passo importante rumo a uma era digital mais democrática, colaborativa e centrada no bem comum. Investir, fortalecer e proteger esses bens é investir em um futuro onde o digital seja realmente de todos – e para todos.

Artigo escrito com o auxílio da Inteligência Artificial.

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